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Curiosidades

Tipagem sanguínea – o exame, resultado do cruzamentos de sangue pai mãe, e qual doador e receptor universal.

 

Um exame realizado no laboratório é o que identifica o grupo sanguíneo ABO Rh, tipagem sanguínea ou  sistema ABO-Rh, o teste é rápido e não requer nenhum jejum antes da coleta de sangue. Mas como é que se forma os grupos sanguíneos e o fator Rh, quem é o doador universal e o receptor, qual grupo pode doar para qual grupo, e os possíveis e impossíveis filhos de cruzamentos do tipo de sangue do pai e mãe? Neste texto vamos esclarecer estas perguntas em relação aos diferentes tipos de sangue humano.
Identificados no início do século por Landsteiner, o sangue é classificado em grupos, seguindo características das células conhecidas como hemácias, ou glóbulos vermelhos. O que rege a transfusão de sangue entre os indivíduos é a presença de antígenos nas hemácias, e dos anticorpos no plasma sanguíneo. Exame do sangue permitem determinar o grupo sanguíneo dos indivíduos e também verificar a presença de antígenos no sangue do doador e de anticorpos no sangue do receptor da transfusão, visando evitar transfusões incompatíveis que causam hemólise (lise ou “quebra”) das hemácias causando complicação leves a graves.
Brevemente lançaremos o ibook de hematologia adaptado para ipad , e um pouco deste material está neste texto.
Antígenos são substâncias que estimulam o organismo a produzir anticorpos, normalmente o corpo não gera anticorpos contra seus próprios antígenos. Os antígenos da superfície das hemácias ao encontrarem os anticorpos correspondentes, produzem aglutinação celular. Por essa razão, os antígenos dos eritrócitos são também chamados de aglutinógenos.
O tipo de sangue dos indivíduos resulta da combinação de características herdadas de seus progenitores, pai e mãe. Cada indivíduo recebe 1 gene paterno e 1 gene materno, cuja combinação vai determinar o seu tipo sanguíneo. Na espécie humana, existem 3 tipos de genes relacionados aos grupos sanguíneos, conhecidos como gene O, gene A e gene B. Estes genes indicam aos indivíduos os antígenos que devem produzir na superfície das hemácias.
O gene O é um estimulante muito fraco da produção de antígenos; a sua presença, praticamente determina a ausência de antígenos nas hemácias. O gene A determina a presença do antígeno A; o gene B, determina a presença do antígeno B.
O gene O, por ser um estimulante fraco, não influencia o outro gene recebido; ao contrário, sua presença é mascarada pelo outro gene. Portanto, se um indivíduo recebe o gene O de um genitor (pai ou mãe) e o gene A do outro genitor, o seu grupo será o grupo A.
OO – Recebeu o gene O de ambos os genitores.
OA – Recebeu o gene O de um genitor e o gene A do outro.
OB – Recebeu o gene O de um genitor e o gene B do outro.
AB – Recebeu o gene A de um genitor e o gene B do outro
AA – Recebeu um gene A de cada genitor
BB – Recebeu um gene B de cada genitor.
De acordo com os genes existentes podemos ter as seguintes combinações de transmissão hereditária:
Os indivíduos com a combinação de genes OA e AA terão o grupo sanguíneo A (pela presença do antígeno A).
Os indivíduos com a combinação de genes OB e BB terão o grupo sanguíneo B (pela presença do antígeno B).
Os indivíduos com a combinação de genes AB terão o grupo sanguíneo AB (pela presença de ambos os antígenos, A e B).
Os indivíduos com a combinação de genes OO terão o grupo sanguíneo O (sem a presença de antígenos).
A base da classificação do sangue em grupos, reside na presença ou não desses antígenos ou aglutinógenos. Desse modo, alguns indivíduos possuem apenas o aglutinógeno A nas suas hemácias. Outros tem o aglutinógeno B, outros podem ter os dois aglutinógenos, A e B presentes e finalmente, outros indivíduos podem não ter nem o aglutinógeno A nem o aglutinógeno B, na superfície das suas hemácias.
São quatro grupos principais da classificação sanguínea.
Grupo Sanguíneo A – As hemácias tem o aglutinógeno A presente.
Grupo Sanguíneo B – As hemácias tem o aglutinógeno B presente.
Grupo Sanguíneo AB – As hemácias tem os aglutinógenos A e B presentes.
Grupo Sanguíneo O – As hemácias não tem aglutinógeno nem do tipo A e nem do tipo B.
Gens Recebidos – Grupo Sanguíneo – Antígenos presentes
OO —————————– O  —————–  —
OA ou AA——————- A  ——————- A
OB ou BB —————— B ——————– B
AB —————————- AB  —————— AB
O grupo sanguíneo de um indivíduo, na realidade, nos indica qual o antígeno presente na superfície das suas hemácias, e o resultado do teste serve para determinação da tipagem sanguínea do indivíduo, em relação aos principais antígenos de membrana eritrocitária. Estes dados poderão ser utilizados em rotinas pré-natais ou condições transfusionais.
Em um indivíduo do grupo sanguíneo B, sabemos que as suas hemácias tem o antígeno B.
Distribuição dos grupos sanguíneos.
Tipo O – 47%
Tipo A – 41%.
Tipo B – 9%
Tipo AB – 3%
O sangue do tipo O é o mais encontrado, enquanto o tipo AB é o mais raro. A distribuição dos grupos sanguíneos na população está mostrada na tabela.
Os anticorpos (aglutininas)
Após o nascimento, aqueles indivíduos que tem o grupo sanguíneo A (antígeno A presente nas hemácias), produzem no seu plasma anticorpos anti-B.
Os indivíduos do grupo sanguíneo B (antígeno B presente), em consequência, irão produzir anticorpos anti-A. Os indivíduos do grupo AB, que tem os dois antígenos, não produzem nenhum tipo de anticorpos e, ao contrário, os indivíduos do grupo O, que não tem nenhum antígeno, irão produzir os dois tipos de anticorpos, anti-A e anti-B. Como a reação entre o antígeno das hemácias e seu anticorpo produz aglutinação das hemácias, os anticorpos do plasma são também chamados de aglutininas, respectivamente aglutinina anti-A e aglutinina anti-B.
Possibilidades de transfusão entre os grupos sanguíneos
Estas características permitem a transfusão de sangue entre diferentes indivíduos, em relação à compatibilidade dos antígenos e anticorpos do sistema ABO.
Como o Grupo O não tem antígeno de nenhum tipo, ele pode ser doado para si mesmo, e para os demais grupos, A, B e AB; o grupo A pode doar para si e para o grupo AB; o grupo B pode doar para si e para o grupo AB e, finalmente, o grupo AB apenas pode doar para indivíduos do mesmo grupo.
O indivíduo do grupo O pode doar para qualquer grupo; por esta razão é conhecido como doador universal. Entretanto, apenas podem receber transfusões do sangue de indivíduos do grupo O. O grupo AB é o receptor universal. Pode receber de qualquer grupo, porém apenas pode doar para outro indivíduo AB; também é chamado de “egoista”. Na prática, é recomendável que as transfusões sejam feitas entre grupos idênticos; se necessário, contudo, o sangue de grupos compatíveis pode ser utilizado, conforme as características do sistema ABO. A figura ao lado relaciona as compatibilidades (C) e as incompatibilidades (I) entre os grupos sanguíneos.
Fator Rh
Além do sistema ABO, existem diversos outros sistemas de antígenos identificados nas células sanguíneas e capazes de produzir reações de incompatibilidade. O mais importante desses é o sistema ou Fator Rh. Este sistema também é rotineiramente estudado, para avaliar a compatibilidade das transfusões de sangue.
Do mesmo modo que no Sistema ABO, os antígenos CDE do Sistema Rh se localizam na superfície das hemácias. O antígeno mais importante do Sistema Rh é o antígeno D. Para simplificar a compreensão do Sistema Rh, vamos admitir que os antígenos C, D e E sejam conhecidos como um antígeno único, chamado antígeno Rh. Rh Positivo está presente em 85% dos indivíduos enquanto Rh Negativo está presente em 15% das pessoas.
Os antígenos do sistema Rh
O grupo de antígenos Rh foi descoberto em uma espécie de macacos chamada Rhesus, de onde foram extraídas as iniciais Rh. Existem seis tipos de antígenos do grupo ou sistema Rh, assim conhecidos: C, D e E (maiúsculas). c, d, e e (minúsculas). Os indivíduos que tem em suas hemácias um ou mais dos antígenos C, D ou E, será considerado portador do antígeno Rh; este indivíduo é Rh positivo (+). Quando um indivíduo tem apenas um ou mais antígenos fracos, c, d ou e, em suas hemácias e, portanto não possui um antígeno capaz de estimular a produção de anticorpos, ele será um indivíduo do tipo sanguíneo Rh negativo (-).
Ao transfundir sangue Rh positivo a um indivíduo Rh negativo, no momento não acontece reação, mas quem recebeu este sangue irá produzir anticorpos anti-Rh ao longo do tempo, que atingirão um máximo entre 2 e 4 meses. Caso sofra nova transfusão o mesmo indivíduo receber outra transfusão de sangue Rh positivo, ocorrerá uma forte reação dos anticorpos anti-Rh formados contra o antígeno Rh recentemente transfundido. Isso acontece porque quem recebeu o sangue ficou “sensibilizado” contra o fator Rh. Por esta razão, os indivíduos Rh negativos devem sempre receber sangue Rh negativo.
Quem é o verdadeiro doador universal
Pela distribuição dos diferentes antígenos nos indivíduos, podemos observar que o tipo sanguíneo comumente encontrado é o tipo O Rh(+) com 38% da população; depois o A Rh+ presente em 35% dos indivíduos; B Rh+ em 8%; O Rh- em 7%; A Rh- em 6%; AB Rh+ em 3%; AB Rh- em 2%; e por fim o tipo mais raro é o tipo B Rh(-).
Como o tipo sanguíneo O Rh(-) não tem nenhum tipo de antígenos nas suas hemácias, este sim é o verdadeiro “doador universal”.
Quando a mulher Rh- casa com um homem Rh+
O fator Rh é muito importante, veja o caso da mulher Rh- que casa com um homem Rh+ e gera um bebê Rh+. O sangue fetal através da placenta estimula o sistema imunológico materno a produzir anticorpos contra o fator Rh do feto. Após a gravidez, a mãe fica “sensibilizada” contra o fator Rh. Em gestações subseqüentes, um novo feto com sangue Rh+ poderá sofrer sérias conseqüências, porque os anticorpos anti-Rh do sangue materno irão agredir as hemácias do feto, causando a condição conhecida como eritroblastose fetal. As mulheres que estão nesta situação devem receber injeção de imunoglobulinas Rh (RhoGAM), para neutralizar os anticorpos existentes.
Possibilidade no cruzamento de tipos sanguíneos do pai e da mãe
Tipo de sangue do pai e da mãe  —- Filhos possíveis —–filhos não possíveis
O com tipo O ——————————— O ————————- A, B e AB
O com tipo A ——————————— O e A ———————- B e AB
A com tipo A ————- ——————- O e A ————-—-  B e AB
O com tipo B ——————————— O e B ———————- A e AB
B com tipo B ——————————— O e B ———————–A e AB
A com tipo B ———————————A, B, AB e O ———-  Não tem
A com tipo  AB —————————– A, B e AB  ————– O
O com  tipo AB ——————-——– A e B ———————– O e AB
B com tipo AB ———————————A, B e AB ————– O
Ab com tipo AB ——————————-A, B e AB ————– O
Para fazer o exame de sangue buscando saber o tipo de sanguíneo é simples e barato, além disso o resultado sai no mesmo dia. O teste é solicitado em exames admissionais, gestação, transfusão e também é interessante fixar em local visível do uniforme ou roupa de trabalho em caso de profissões de risco, apesar de ser necessário sempre que for receber transfusão, mesmo sabendo qual o tipo de sangue do receptor, todas as provas para pré transfusionais devem ser realizadas.

 Fonte: plugbr


 

Principais cobras venenosas do Brasil

Prof. Dr. György Miklós Böhm

 

Jararacas, Cascavéis e Surucucus

A maioria dos ofídios brasileiros pertencem à família Viperidaee estão agrupados em 3 gêneros:

1. Bothrops – são as jararacas. Jararaca é um nome enganoso porque, tanto se refere a uma espécie, a Bothrops jararaca, como é o nome coletivo do gênero Bothrops. Compreende umas 20 espécies: B. jararaca, que é a jararaca propriamente dita, B. alternatus, que é a urutu ou cruzeira, B. atrox, também chamada de jararaca ou de combóia, B. bilineatus que é verde e vive nas árvores e, por isso, chamada de cobra-papagaio, a B. insularis, uma jararaca singular que só tem na Ilha Queimada, no litoral paulista, na altura da cidade de Santos. O veneno dessa jararaca é muito potente, pelo menos para pássaros dos quais essa cobra se alimenta quase que exclusivamente.

Se não fosse isto, o animal morreria de fome, pois, após a picada os pássaros voariam muito longe, fora da alcance da serpente. E assim há muitos outros ofídios do gênero Bothrops cujos representantes são encontráveis em todo território nacional.

   
2. Crotalus – são as cascavéis, com seu guizo ou chocalho típico. A espécie é durissus, com numerosas subespécies, todas muito parecidas umas com as outras. Sua distribuição geográfica é mais restrita a áreas secas e arenosas das regiões sul, sudeste e centro do país. O maior número de acidentes por cascavel ocorre no Estado de São Paulo.

3. Lachesis – é a surucucu, o maior dos ofídios venenosos do país. A espécie encontrada com maior freqüência é a Lachesis muta muta, que pode alcançar 3 metros ou mais de comprimento. Na fronteira da Amazônia brasileira com outros países existem algumas outras subespécies. A particularidade mais chamativa da surucucu é a mudança da posição das escamas na ponta da cauda. Em vez de ficarem deitadas sobre o corpo, nesta região as escamas estão eriçadas. É uma serpente cujo habitat é a floresta tropical e, portanto, são mais comuns no norte do Brasil.

Todas essas cobras da família Viperidae têm uma cabeça grande, triangular, visivelmente mais larga do que o corpo. A presença da fosseta loreal é constante e são solenóglifas sem exceção (como já foi explicado, as serpentes solenóglifas possuem presas grandes e móveis canalizadas, na região anterior da maxila). A cauda é importante. Nas jararacas ela afina bruscamente, ao contrário dos ofídios não peçonhentos nos quais o adelgaçamento da cauda é gradual. A cauda das cascavéis termina em um chocalho característico e as surucucus possuem escamas eriçadas nesta região.

Pode-se dizer que todas elas são mais ativas durante a noite, porém não são animais de hábitos estritamente noturnos.


Cobras Corais

À família Elapidae pertence o gênero Micrurus que é das serpentes corais venenosas. Temos várias espécies, corallinus, fisherii, frontalis, etc... todas com características marcantes: são ofídios pequenos, de 15 a 60 cm de comprimento, excepcionalmente 1 metro, tendo anéis de cor negra e vermelha, ou, ainda, branca e amarela, bem brilhantes e muito nítidos. A cabeça dessas cobras é pequena e estreita, quase da mesma largura que o corpo e não possui fosseta loreal. A boca também é pequena e as presas são do tipo proteróglifo, isto é, com sulcos e fixas na região anterior do osso maxilar. Estes detalhes são quase que irrelevantes considerando o colorido inconfundível da pele destes ofídios. Não há como não reconhecê-los. A única confusão possível é com a cobra-coral-falsa. Esta é de outra família, Aniliidae, e é uma serpente áglifa, sem presas. Tem anéis pretos e vermelhos mas menos nítidos que as corais verdadeiras.

Não procure distinguir as cobras corais verdadeiras das falsas.
Deixe este trabalho para especialistas e não mexa com essas serpentes porque são extremamente venenosas!

As cobras corais têm hábitos noturnos e subterrâneos. Ficam embaixo de folhas, de tocos podres ou da terra fofa. São encontráveis em todas as regiões do Brasil.

 


 Reconhecimento das cobras venenosas

 

 

O reconhecimento de serpentes peçonhentas deveria fazer parte do currículo escolar, principalmente nas áreas rurais do Brasil. Nós teremos que recapitular alguns pontos já colocados mas, antes, tentaremos explicar o porquê da importância do assunto.

O problema central é o tratamento das vítimas de mordidas de cobra. Essencialmente, isto é feito com a soroterapia que deverá ser a mais específica possível.

Vejamos isto:

O antídoto contra o veneno é preparado a partir de soro de cavalos que são imunizados contra a peçonha de cobras. Doses crescentes de veneno são injetadas durante um período para que o animal fabrique anticorpos contra o mesmo. Depois, retira-se o sangue do cavalo e prepara-se o soro anti-ofídico para uso em pacientes mordidos por ofídios.

É possível injetar mais de um tipo de veneno, por exemplo de jararaca e cascavel no cavalo, a fim de que faça anticorpos contra ambos os serpentes. Isto é feito e existem soros bivalentes: antibotrópico e anticrotálico (contra jararaca e cascavel), antilaquético e antibotrópico (contra surucucu e jararaca), etc...

Entretanto, a eficiência da terapêutica é muito maior com um soro específico do que com soros multivalentes. Assim, se o acidente for com cascavel é muito melhor injetar no paciente soro especificamente anticrotálico, do que um soro polivalente.

( Esquema da produção de soro)

Esperamos que tenha ficado claro que, se o cidadão acidentado informar corretamente ao médico o tipo de cobra que o mordeu, ele receberá uma terapêutica muito mais eficaz. Em caso de dúvidas, lhe será administrado soro polivalente de menor eficiência para combater o veneno ofídico.

Talvez, neste momento, você esteja formulando duas perguntas:

a) "O médico não é capaz de diagnosticar pelos aspectos clínicos o tipo de cobra que mordeu a pessoa ?"

b) "Será que o hospital não tem algum teste para detectar o tipo de veneno ?"

Ambas são excelentes questões e vamos respondê-las.

a) A prática clínica com vítimas de ofídios peçonhentos leva ao reconhecimento correto do serpente responsável pelo acidente. Portanto, a resposta é de que o médico é capaz de diagnosticar pelos aspectos clínicos o tipo de cobra que mordeu a pessoa. Mas, e é um mas grande, são poucos os profissionais que têm a prática necessária para fazer este diagnóstico. Lembre-se que no início dissemos que mensalmente existem 1.500 a 2.000 casos de ofidismo ? Isto no Brasil todo. Quantos serão os médicos que têm experiência suficiente para reconhecer os quadros clínicos específicos de cada gênero de serpente ? Certamente poucos. Só aqueles que trabalham nos grandes centros de referência para tratar estes acidentados. Por exemplo, Hospital "Vital Brasil", Hospital das Clínicas de Botucatu, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e alguns outros centros que concentram os casos de ofidismo no país.

b) Quanto a exames laboratoriais para diagnosticar tipos de venenos de cobra, eles existem e são capazes de identificar o veneno e até a quantidade que foi injetada pelo animal. Porém, há dois obstáculos a vencer: primeiro, a lentidão desses testes – os pacientes não podem aguardar horas – segundo, a dificuldade técnica e o custo, que limitam sua utilização aos centros de excelência. Os acidentes ofídicos ocorrem, na mais das vezes, longe dos hospitais bem equipados e, quando os pacientes chegam aos postos de atendimento, é preciso agir com rapidez e com os meios disponíveis: soros e outros remédios.

Certamente, até que não haja um meio de diagnosticar o tipo de veneno nos centros médicos e postos de saúde em todo o país, é importante que a vítima seja capaz de informar a espécie (pelo menos o gênero) de cobra que a mordeu: jararaca, cascavel, surucucu ou coral. Levar o ofídio – vivo ou morto – até o centro médico é uma ótima idéia, desde que a captura ou matança do animal não resulte em novas mordidas.

Examine essa tabela de reconhecimento de serpentes peçonhentas. Ela mostra os pormenores: tipo de cabeça, fosseta loreal, dentição, aspecto das escamas e cauda.

Venenosas Não Venenosas

Cabeça chata, triangular, bem destacada.

Cabeça estreita, alongada, mal destacada.

Olhos pequenos, com pupila em fenda vertical e fosseta loreal entre os olhos e as narinas (quadradinho preto).

Olhos grandes, com pupila circular, fosseta lacrimal ausente.

Escamas do corpo alongadas, pontudas, imbricadas, com carena mediana, dando ao tato uma impressão de aspereza.

Escamas achatadas, sem carena, dando ao tato uma impressão de liso, escorregadio.

Cabeça com escamas pequenas semelhantes às do corpo.

Cabeça com placas em vez de escamas.

Cauda curta, afinada bruscamente.

Cauda longa, afinada gradualmente.

Quando perseguida, toma atitude de ataque, enrodilhando-se.

Quando perseguida, foge.

Tudo poderá ser facilmente verificado, se tivermos um animal morto ou imobilizado que poderá ser examinado com calma e minuciosamente. Na prática, quando ocorrem os acidentes, a situação é bem outra, no entanto há algumas observações que geralmente dá para fazer.

1. Verifique a coloração do corpo do animal que lhe mordeu. Os característicos anéis coloridos das cobras corais são gritantes. Você poderá dizer ao médico se foi ou não uma cobra coral. A confusão com as serpentes corais falsas é irrelevante, pois não trará nenhum perigo à sua saúde.

2. Se não for coral, veja bem a cauda da cobra se tem ou não o chocalho típico da cascavel. O chocalho também se ouve: antes de dar o bote, a cascavel balança vigorosamente a cauda para lhe espantar com o ruído. Repetimos que o chocalho é muito óbvio e fácil de reconhecer. Já as escamas eriçadas da cauda da surucucu é muito mais difícil de ver.


Chocalho
As serpentes crescem rapidamente após o nascimento e alcançam a maturidade após 2 anos (as grandes cobras, jibóia e sucuri, após 4 ou 5). Durante suas vidas os ofídios mudam a pele regularmente e é comum encontrar-se cascas de serpentes abandonadas no campo. A cascavel, por razões não bem entendidas, em vez de sair completamente de sua pele antiga, mantém parte dela enrolada na cauda em forma de um anel cinzento grosseiro. Com o correr dos anos, estes pedaços de epiderme ressecados formam os guizos que, quando o animal vibra a cauda, balançam e causam o ruído característico. A finalidade é de advertir a sua presença e espantar os animais de grande porte que lhe poderiam fazer mal. É uma ótima chance de evitar o confronto.

3. Tome nota da hora em que você foi picado. É uma informação preciosa ao posto de socorro. Por exemplo, poderá servir ao médico para diferenciar a cobra coral verdadeira da falsa: se após pouco tempo você não tem nenhum dos sintomas clínicos de envenenamento ofídico, ficará algum tempo em observação sem tomar soro. O tempo decorrido entre o acidente e a intensidade dos sintomas também é fundamental para avaliar a gravidade do caso e guiará a terapêutica a ser aplicada.

4. Se não tiver nenhuma observação sobre a cobra, pelo menos informe os aspectos do local em que aconteceu o acidente: floresta, areia, rochas expostas, etc...

De tudo que foi dito, é simples deduzir que a maior dúvida é sempre entre a jararaca e a surucucu.

 


 O que é que você deverá fazer se for mordido por cobra venenosa

 

 

Antes de mais nada, vamos dizer o que NÃO FAZER. Lamentamos desapontar você e contradizer todos os filmes, livros e histórias de aventuras, quando homens-macacos, heróis do faroeste, nobres selvagens e mocinhos de todos os tipos, aplicam torniquetes na perna, cortam os músculos com a faca, chupam o veneno com a boca e aplicam brasas, ferros incandescentes, fumo, bosta de vaca e outros remédios heróicos sobre a mordida de cobras.

Não faça nada disto. Nem o torniquete. Tampouco aplique pó de café, querosene ou teia de aranha, seguindo a sabedoria popular. Hoje, a experiência nacional é muito grande e sabe-se que todas essas tentativas de cura, consagradas ao longo dos tempos, só prejudicam. Repetimos: não faça intervenção alguma, é melhor. Procure manter a calma: lembre-se que a maioria dos acidentes ofídicos não matam nem mesmo quando não tratados; lembre-se que a soroterapia resolve seu caso, mesmo se instituída muitas horas – 6 a 12 horas – depois. Se sentir dor, tome um analgésico.

"Se tiver ampolas de soro anti-ofídico por perto?"

Primeiro considere as condições de armazenamento. As ampolas de soro anti-ofídico devem ser conservadas em geladeira entre 4oC e 6oC positivos; na temperatura ambiente duram pouco: alguns meses. A seguir, observe a validade dos soros, pois é muito comum estarem vencidos há anos. Depois de certificadas as condições de estocagem e o vencimento das ampolas, elas devem ser aplicadas mas não por você, sobretudo se estiver sozinho. É um remédio para mãos experientes. A soroterapia tem suas dificuldades que colocaremos logo mais. Busque socorro e leve as ampolas consigo.

O que fazer?

Procure imediatamente chegar ao primeiro centro médico que tiver a seu alcance e transmita suas observações (aquelas quatro observações mencionadas no texto sobre o "reconhecimento das cobras venenosas") à primeira pessoa que lhe socorrer, a fim de que, em caso de desmaio, haja alguém para prestar informações ao médico. Se estiver fácil, lave o local da mordida com água e sabão mas não perca tempo: procure um centro médico.

O que é que o médico vai fazer ?

Ao chegar no posto médico, sua história será ouvida enquanto a região mordida for lavada. Depois seguirá um exame cuidadoso. As primeiras preocupações serão de diagnosticar o tipo de cobra responsável pelo acidente e avaliar a intensidade do envenenamento. O médico procurará examinar bem as alterações locais, isto é a região em que você foi picado e, também, as suas condições sistêmicas ou gerais.

A região mordida por cobras dos gêneros Bothrops e Lachesis são os que mais provocam manifestações locais. Aparecem a dor, o edema (inchaço), hemorragia, bolhas na pele, reação inflamatória, com ou sem infecção, e a necrose (morte do tecido), em graus variados. Quanto mais intensos forem esses sinais, maior dose de soro será lhe administrado. A cascavel e a cobra coral não costumam dar sinais locais importantes, a não ser quando é aplicado garrote, incisões a faca, etc... Contudo, a primeiro costuma deixar sinais evidentes da picada, visto que suas presas são bem desenvolvidas, enquanto que a segunda, praticamente, só deixa escoriações.

Os aspectos sistêmicos variam bastante:

  As cobras dos gêneros Bothrops e Lachesis causam hemorragias várias, das gengivas, do tubo digestivo e dos rins, principalmente. Também provocam choque (queda da pressão arterial) e insuficiência renal. A surucucu tem neurotoxicidade maior e, portanto, pode causar choque mais precocemente do que a jararaca, devida uma forte estimulação vagal (sistema nervoso autônomo).
  A mordida da cascavel é seguida de náuseas e vômitos. Pouco tempo depois, nas primeiras 6 horas, aparecem queda de pálpebra, distúrbios visuais, dificuldade de movimentação dos membros e, até, dos movimentos respiratórios. São os sinais típicos da neurotoxicidade do veneno crotálico. A vítima também se queixa de dores musculares generalizadas, pois o veneno é miotóxico. Em fases avançadas, costuma instalar-se a insuficiência renal.
  A coral é basicamente neurotóxica e impede a transmissão do sinal nervoso ao músculo. Seu veneno potente provoca queda de pálpebra, distúrbios visuais e paralisias musculares graves. Ainda bem que o animal é pequeno e, em geral, inocula pouco veneno.

Feita a avaliação, a equipe do hospital instalará a soroterapia, a mais específica possível. Você receberá de 4 a 12 ampolas de 10 ml cada, dependendo da gravidade do seu caso, por via intravenosa. Após o medicamento anti-ofídico, receberá soro glicofisiológico pela veia, a fim de evitar a insuficiência renal. Também lhe aplicarão uma injeção de soro antitetânico, profilaticamente. Se existirem complicações, como infecção, necrose ou insuficiência renal aguda já instalada, as medidas serão, respectivamente, antibioticoterapia, intervenção cirúrgica para remover os tecidos necrosados e diálise renal. Em caso de acidentes causados por cobra coral ou cascavel, o médico observará a ação neurotóxica do veneno e tratará de corrigir a situação com medicações que ajudam a neurotransmissão, que fica seriamente comprometida e provoca as paralisias.

Finalmente, o médico terá que observar cuidadosamente suas reações durante a soroterapia. É que, com certa freqüência, aparecem reações de hipersensibilidade, imediatamente na hora da administração do antiveneno ou até um dia após a mesma, que precisam ser controladas. Isto é feito com vários medicamentos simpatomiméticos (adrenalina, por exemplo) e anti-histamínicos. Considerando as reações de hipersensibilidade, é que se desaconselha que a soroterapia seja instalada por leigos.